segunda-feira, 28 de junho de 2010

Deficiência Mental e escola regular: contribuições da Psicologia Histórico-Cultural

Giovani Ferreira BEZERRA[1]
[1] Graduando do curso de Pedagogia, 4º ano, pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), unidade de Paranaíba, ex-bolsista de iniciação científica pela UEMS e CNPQ.

A recente inclusão de alunos com Deficiência Mental, nas escolas regulares, exige dos professores uma compreensão menos estereotipada ou preconceituosa sobre essa própria deficiência humana. Contudo, pela nossa vivência acadêmica, em cursos de formação de professores, e pela leitura de bibliografia especializada, constatamos que a maioria dos educadores ainda se sente despreparada para receber, nas salas de aula comum, alunos nessa condição, em virtude do conhecimento teórico escasso e confuso de que dispõem.
Sendo assim, percebemos a premência de se empreender um estudo mais sistemático sobre a Deficiência Mental e suas implicações para o cotidiano escolar. Para tanto, buscamos, nos procedimentos técnicos da pesquisa bibliográfica a sustentação metodológica para desenvolver nosso próprio projeto de investigação científica acerca dessa temática, denominado Vygotsky: alternativa teórica para estudos sobre a Deficiência Mental, realizado entre os meses de agosto de 2008 e julho de 2009. Durante esse período, o projeto teve o apoio financeiro da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) e resultou em artigos, palestras e comunicações apresentados nessa mesma universidade.
Os objetivos da pesquisa, que tomou por base o referencial teórico da Psicologia Histórico-Cultural, foram: compreender o conceito de Deficiência Mental na sua relação dialética entre capacidades x incapacidades; entender os processos de aprendizagem e desenvolvimento intelectual das crianças com esta deficiência e propor alternativas e sugestões didáticas para a efetivação de uma práxis pedagógica inclusiva.
Os resultados a que chegamos podem ser assim sintetizados:
1. A Deficiência Mental não pressupõe apenas incapacidades e disfunções neurológicas, mas é uma condição orgânica complexa, que evidencia também habilidades muito particulares, tais como a inteligência prática, a memória natural e a psicomotricidade. A existência dessas habilidades revelam um caminho promissor, que pode sustentar, de maneira positiva e menos dolorosa, a inclusão de alunos com esse quadro clínico no Ensino Regular.

2. O conceito de Deficiência Mental não pode estar circunscrito aos déficits neurológicos individuais, chamados de primários na concepção vigotskiana. A sociedade, com suas práticas excludentes ou ainda superprotetoras, exerce um papel negativo em torno da pessoa com Deficiência Mental, agravando, num plano secundário, suas limitações intelectuais e psicológicas.

3. Como, na perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural, as funções mentais superiores constituem-se na relação dialética entre os sujeitos, sendo nestes internalizada e/ou elaboradas como processo intrapsicológico (individual) a partir da dimensão interpsicológica (vivência entre pessoas), o discurso do determinismo biológico das aptidões humanas perde sua velha autoridade. Em seu lugar, emerge uma interpretação oposta, que considera as possibilidades individuais de apropriação e experiência culturais como fator determinante para o quadro de Deficiência Mental, mais do que as eventuais disfunções do Sistema Nervoso Central (SNC).

4. A plasticidade cerebral e a contínua formação sistêmica do psiquismo humano sugerem que crianças com Deficiência Mental podem, apesar de suas restrições intelectuais, desenvolverem novas conexões no córtex cerebral, compensando assim os efeitos da própria deficiência. Nesse sentido, a aprendizagem escolar, orientada para interferir na Zona de Desenvolvimento Potencial de cada criança, pode ser um poderoso estímulo para o SNC.

5. A prática pedagógica precisa olhar mais atentamente para as habilidades e possibilidades de realização cognitiva dos alunos com Deficiência Mental, de modo que a sala de aula inclusiva seja um espaço de aprendizagens recíprocas, partilha de saberes, atitudes e competências. Uma alternativa para viabilizar tal prática é o trabalho com projetos temáticos e a adoção de propostas qualitativas para a avaliação do desempenho individual e coletivo nas atividades curriculares.

Diante dos resultados ora apresentados, percebe-se a relevância de nossa pesquisa, não só para nossa formação enquanto pesquisadores na área da Educação Inclusiva, mas também para toda a Academia e para os educadores da Educação Básica, que poderão encontrar em nossos estudos fundamentos teóricos e metodológicos consistentes para a fundamentação de sua própria práxis.

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